segunda-feira, 5 de abril de 2010

Rede particular responde por 90% do ensino superior oferecido no país (Portal R7)

Ingrid Tavares, do R7

Em 2008, as instituições privadas ficaram com 80% do 1,5 milhão de novos alunos
Não foi do governo o papel principal de acesso à educação superior no país no ano passado. Essa função ficou a cargo da rede privada de ensino, que recebeu o maior número de alunos e ofereceu mais vagas e cursos de graduação do que as instituições públicas em 2008, apontam dados do Censo da Educação Superior, divulgados nesta sexta-feira (27) pelo Inep, órgão de pesquisas ligado ao MEC (Ministério da Educação). 


Das 2.252 instituições de ensino superior cadastradas no ministério em 2008 – 29 a menos do que no ano anterior –, 90% são privadas. No ano passado, por exemplo, as instituições pagas foram responsáveis por 79,6% do 1,505 milhão de novos alunos nas faculdades, com 1,198 milhão de ingressantes. Já o ensino público chegou a registrar declínio desse percentual nas instituições municipais (- 10,4%). As faculdades estaduais e as federais, no entanto, tiveram aumento em 2008 com relação a 2007, acompanhando a média do país. 


A oferta de cursos também é maior no ensino superior privado, com 17.947 carreiras frente as 6.772 da rede pública. A diferença de 11.175 cursos, em 2008, sugere que as instituições privadas acompanharam melhor as tendências do mercado de trabalho, deixando as carreiras clássicas para as faculdades públicas. 



Problemas 


Apesar desses números, Mozart Ramos Neves, presidente-executivo do Movimento Todos pela Educação, alerta para a quantidade de vagas ociosas e a baixa concorrência nas instituições pagas em 2008. 

— Apesar de o ensino superior estar privatizado no país, mais da metade das vagas dessas instituições não estão preenchidas. Isso revela dois aspectos: ou os alunos não estão interessados nessa quantidade de carreiras novas, ou eles não conseguem pagar as mensalidades dos cursos. 


Para ele, mesmo com tanta oferta de oportunidades na carreira universitária, o país está longe de bater a meta do Plano Nacional de Educação, como colocar 30% dos jovens, entre 18 e 24 anos, nas universidades. 

No Brasil, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2008, só 13,9% dos jovens nessa faixa etária estão no ensino superior. Para ele, é “impossível” o país alcançar a meta até 2011, já que teria de praticamente triplicar a quantidade de alunos.

Segundo dados da ONG, 85% das matrículas do ensino médio são da rede pública de ensino, e não da privada. A inversão na etapa seguinte, na entrada da faculdade, segundo Ramos, demonstra a baixa qualificação do ensino no país. 


— Nas metas do Todos Pela Educação, só 9,8% dos concluintes do ensino médio apreenderam conhecimentos de matemática em todo o país. Agora, se o aluno não sai da escola sabendo o básico, como exigir que ele acompanhe as aulas nas faculdades? Essa baixa qualificação vai aparecer como futuras reprovações nas universidades privadas ou como abandono dos cursos nas instituições públicas. 


Para Ramos, é preciso equacionar essa diferença para que mais pessoas tenham acesso ao ensino superior a médio prazo. Para ele, uma medida rápida seria o governo apostar nos cursos com menor duração, como os tecnológicos, que acompanham bem as demandas do mercado. Ele aponta ainda uma reforma nas grades curriculares, deixando a conclusão de algumas carreiras dois anos mais curtas. 


Dez maiores 


Além disso, das dez instituições de ensino com o maior número de matrículas no país, em 2008, oito são particulares. A Unip (Universidade Paulista) lidera o ranking, com 166.601 alunos, seguido da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, com 115.916, e Uninove (Universidade Nove de Julho), com 93.520. 

Consideradas centros de referência no país, a USP (Universidade de São Paulo) aparece apenas na sexta colocação, com 50.508 matrículas, e a Unesp (Universidade Estadual Paulista), com 31.974 alunos, fecha a lista das dez maiores. 

Apesar dessa concentração na rede particular, o censo 2008 aponta que as instituições que mais incentivam pesquisas e projetos de extensão são as do ensino público. Enquanto 90% das instituições pagas são faculdades, 6% delas são centros universitários e 4%, universidades; a rede pública se divide entre faculdades (57%) e universidades (40%), basicamente – o restante se refere aos centros universitários, que têm autonomia como as universidades, para criar vagas e cursos sem aval do MEC, por exemplo, mas não atuam na formação de pesquisadores.

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