Enquanto houver preocupação com a língua, haverá espaço para os formados em Letras
Natália Soares - O Globo
Diretora do Instituto de Letras da UFF há seis anos, a professora Lívia Maria de Freitas Reis diz que seu maior prazer é dar aulas. Na hora de escolher, chegou a pensar em ser atriz. Mas, vinda de uma família de professores, optou pela carreira e não se arrepende: "Nossa vida também é vivida em cima de um palco, e nosso público são os estudantes", compara. Ela acredita que as oportunidades na área sempre existirão, e que as chances de sucesso aumentam para quem faz licenciatura.
Como está o mercado de trabalho para quem não pretende seguir o magistério? As áreas de tradução e redação de jornais estão em alta? (Rosaline de Assis)
LÍVIA REIS: Para trabalhar em redação é preciso ser formado em Jornalismo. Em Letras, quem não quiser seguir carreira como professor pode trabalhar com edição, revisão e tradução de textos. Enquanto houver preocupação com a língua, haverá espaço para os formados em Letras. Língua estrangeira é uma área bastante forte, e há vários alunos meus que prestam assessoria de tradução para empresas, pois no nosso mundo globalizado não é possível viver apenas falando o português. Mas, acredito que o mais seguro é fazer licenciatura ou, para quem é bacharel, fazer as duas. Apesar de todos os problemas, como a falta de prestígio social da carreira, baixa remuneração e más condições de trabalho, praticamente não há desemprego para professor.
Como é a qualidade do ensino de Letras no país? (Roberta Lima)
LÍVIA: Dentre todas as graduações, Letras é a que tem a maior oferta de cursos no país. Por ser um curso barato de abrir, ele se proliferou sem controle. Salvo algumas exceções, o ensino nas universidades públicas é melhor do que nas instituições privadas. O regime de dedicação exclusiva é um dos responsáveis pela diferença, pois os professores são obrigados, além de dar aulas, a investir em pesquisa.
Como começar na carreira, sendo que a maioria dos lugares pede experiência prévia comprovada em carteira? (Cristiane Sena)
LÍVIA: Como em qualquer área, é preciso conhecer pessoas e estabelecer contatos. Na nossa formação, temos muitas horas de estágio obrigatório, o que dá ao formando o tempo que ele precisa comprovar. E, mesmo sem experiência, é possível fazer concursos públicos, que são abertos constantemente.
Qual a melhor opção, Inglês ou Espanhol? É preciso fazer um curso de idiomas para cursar? (Patrícia Marques)
LÍVIA: Quem faz cursos de idiomas antes de entrar tem a vantagem do conhecimento, mas não é algo necessário. Quem opta por línguas estrangeiras as aprende na faculdade. O nosso maior desafio é ensinar a ensinar. A melhor opção é o que a pessoa gosta de estudar, pois inglês e espanhol são línguas completamente diferentes. A primeira ainda é a hegemônica, mas a segunda tem ganhado importância. Tanto pelo fato de a Espanha ter muitas empresas investindo no Brasil, como pela nossa vizinhança, que só fala a língua.
Para quem quer seguir carreira como tradutor, é preciso cursar a graduação e uma especialização ou um curso específico na área já é suficiente? (Jorge Gurgel)
LÍVIA: O curso de Letras com a especialização é a melhor opção, pois cursos técnicos na área não vão dar a bagagem cultural que a graduação oferece. Os cursos específicos têm uma visão muito técnica sobre a língua e não têm um enfoque para a teoria da tradução. Esta, inclusive, também é uma carência de muitos cursos de Letras, mas a formação universitária é mais completa.
Estou afastada das salas de aula desde 2001. O que é mais indicado para uma reciclagem ou aprimoramento? (Fernanda Belo)
LÍVIA: As universidades públicas oferecem uma vasta gama de especializações, que são a melhor maneira de se aperfeiçoar e entrar novamente no mercado. Em relação a exigências de qualificação, para ser professor do ensino médio, a especialização já é suficiente, embora já se observe o aumento da procura pelo mestrado nesse nível. Para quem quer dar aulas em universidade, ele é obrigatório. Na verdade, quem quer ser professor deve ter uma educação continuada e constante.
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O curso e o mercado de trabalho
Publicada em 11/05/2009 às 23h01m
O bacharelado e também a licenciatura, que permite ao graduado dar aulas no ensino básico, duram quatro anos. Já no vestibular, é preciso optar por um idioma estrangeiro ou por literatura brasileira. Qualquer que seja a escolha, o aluno terá aulas de português, do idioma escolhido, de latim, de literatura e de linguística. Na licenciatura, há também disciplinas voltadas para a educação.
MERCADO:
Estável. O maior campo atualmente é dar aulas de português, inglês e espanhol. Quem tem especialização em chinês e japonês encontra um mercado em expansão. Grandes empresas também contratam profissionais para dar cursos a funcionários, revisar textos e fazer traduções. Os tradutores têm oportunidades em editoras e empresas de comunicação.
SALÁRIO:
A remuneração de professor depende de cada região, carga horária e nível de ensino. No ensino fundamental, na rede pública, os salários giram em torno de R$ 800 a R$ 1 mil, mas está em discussão um piso nacional para professores de R$ 950. Em universidades, os profissionais com título de mestre ganham cerca de R$ 4 mil. Já para revisores e tradutores, geralmente, a remuneração varia por lauda ou por trabalho.
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