domingo, 4 de abril de 2010

Cresce o número de estrangeiros que estudam no Brasil (IG Educação)

Marina Morena Costa, iG São Paulo
A quantidade de estrangeiros que escolhem estudar no Brasil cresceu 53% nos últimos dois anos. Segundo dados da Polícia Federal, o número de pessoas que entram no País com o visto de estudante saltou de 5.142 em 2007 para 7.889 em 2009. Convênios de instituições internacionais com universidades brasileiras e programas promovidos pelo Ministério da Educação (MEC) têm atraído estudantes estrangeiros cada vez mais.
O MEC promove o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) para estrangeiros de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. O programa possibilita a estudantes com idades entre 18 e 25 anos, e ensino médio completo, a estudar gratuitamente em instituições públicas e privadas.
Atualmente, cerca de 2,7 mil estrangeiros estudam no Brasil por meio do PEC-G, segundo um levantamento do ministério realizado em dezembro de 2009. Nos últimos cinco anos, a média de ingresso foi de 604 alunos novos por ano.
Rodrigo Báez, de 22 anos, é estudante de licenciatura em Música da Universidade de São Paulo (USP) pelo PEC-G. Nascido em Ciudad del Este, no Paraguai, Báez teve contato com a cultura brasileira desde cedo. “Como minha cidade praticamente faz fronteira com o País [em Foz do Iguaçu, no Paraná] a influência brasileira sempre foi muito intensa. Tive aulas de português no ensino médio, inclusive”, conta.
A vontade de estudar no Brasil ganhou fôlego com a possibilidade de ingressar numa universidade pública. “Fiz o processo seletivo, sem saber para qual instituição eu iria. Quando saiu o resultado, me senti privilegiado. Estou vivendo uma experiência muito boa na USP”, resume Rodrigo. O estudante ingressou em fevereiro de 2007 e deve se formar no ano que vem, quando concluir a iniciação científica.
No ano passado, a USP, uma das maiores instituições de ensino superior do País, recebeu 832 alunos intercambistas, dos quais 134 eram do PEC-G. A universidade tem 472 convênios com instituições de ensino de 53 países.



Marina Morena Costa 
Piotr estuda Relações Internacionais na PUC


Intercâmbio

A curiosidade em conhecer a cultura brasileira, somada à distância do país de origem, atraiu o estudante polonês Piotr Lubiewa Wielezynski, de 21 anos, para a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Pensei em ir para a Nova Zelândia, mas acabei escolhendo o Brasil. Queria estudar em um lugar bem longe”, diz o estudante, que desde agosto de 2009 cursa disciplinas de Relações Internacionais na PUC.
Antes de desembarcar no Brasil, o estudante da Escola Principal do Comércio de Varsóvia aprendeu o idioma. “Fiz um semestre em uma escola de línguas e depois comecei a ter aulas particulares com uma professora brasileira. Não acho difícil escrever em português. Às vezes me confundo um pouco com os acentos, mas não enfrento tantos problemas”, explica em português claro e articulado.
Além da língua, Piotr teve outra precaução antes de sair de casa, garantir uma moradia. “Os melhores amigos da minha família têm uma casa em São Paulo onde passam as férias de fim de ano. A única certeza que eu tinha quando cheguei aqui era de que moraria na casa deles.”
Martin Jover, de 23 anos, não teve a mesma sorte. Quando chegou a São Paulo para fazer intercâmbio na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, teve de arcar com a despesa do aluguel de um quarto por R$ 1.000, na Vila Madalena. “Percebi que estava gastando mais dinheiro do que o necessário e três meses depois mudei para uma república, mais perto da faculdade”, lembra o estudante da Escola Paris Val de Seine. Hoje ele gasta R$ 600 com moradia.
Mesmo sem saber falar português, Martin afirma que não passou dificuldades. “Aprendi a falar português aqui mesmo. Meu pai é argentino e eu sabia falar espanhol, por isso tive mais facilidade”, avalia. A ajuda dos colegas de classe também foi fundamental na aprendizagem. “Alguns falavam francês comigo e um colombiano, também intercambista, me explicava o que eu não conseguia compreender.”

Marina Morena Costa
O estudante de arquitetura Martin no campus do Mackenzie

Outra cultura
Por morar em um país vizinho, Rodrigo Báez conhecia bem o Brasil e não teve nenhum “choque-cultural”. Os alunos europeus também afirmam não ter sido surpreendidos pelos costumes, mas destacam a boa receptividade dos brasileiros. “As pessoas são totalmente diferentes, muito mais abertas, agradáveis. Você pode conversar com estranhos na rua. Na França, se eu abordasse uma menina na rua para perguntar alguma coisa ou conversar, ela me olharia feio com cara de ‘o que você está fazendo?’, mas aqui não”, tenta explicar Martin.
“Tive uma boa surpresa quando fui recebido aqui. As pessoas são alegres, acolhedoras e tratam a gente muito bem. Eu sabia que era assim, mas quando você vive é diferente”, define Piotr. O nome polonês, de pronúncia difícil, logo ganhou um apelido entre os colegas brasileiros: “Eles me chamam de Pedrão”.
Algumas expressões da língua ou palavras com significados diferentes acabam causando estranheza e, dependendo do caso, boas risadas. Rodrigo lembra a primeira vez que ouviu um colega furioso dizendo “estou puto”: “Uma coisa que eu não esqueço é a palavra ‘puto’. Aqui significa ‘zangado’, mas na minha cidade significa ‘gay’, ‘homossexual’”.
Piotr não compreende algumas expressões e hábitos. “Não entendo quando você pede ‘desculpas’ e a pessoa responde “imagina”. É muito estranho. Imaginar o quê? Eu deveria imaginar que ela sabe que eu ia falar desculpas?... Não sei, não entendo”, diz.
Dificuldades
O transporte público na maior cidade do País deixa muito a desejar, na opinião dos estudantes europeus. “Paris é quatro vezes menor do que São Paulo e tem metrô na cidade inteira. Você anda um trecho e já entra no metrô para ir por baixo. Há muitas linhas e aqui há pouquíssimas”, compara Martin.
“Moro perto da PUC e por isso não tenho tantos problemas. Mas o transporte público aqui realmente é muito ruim. No início, quando você não conhece a cidade é difícil entender os ônibus, os horários”, reclama Piotr.
Para os três a maior dificuldade – e paradoxalmente o maior crescimento pessoal – é a distância da família. “O lado emocional foi o mais difícil. Estar longe de casa, morando sozinho pela primeira vez no exterior. Tirando isso, a adaptação e o domínio da língua foram rápidos”, avalia Rodrigo.
“Aprendi muito nesta experiência. Afinal estou sozinho aqui, do outro lado do mundo e consigo me virar bem”, diz Martin, mostrando sua familiaridade com as expressões coloquiais.
Para Piotr, o intercambio é uma vivência que muda o estudante. “Acho que você fica mais aberto depois disso, para outras culturas, outras pessoas. É a primeira vez que moro sozinho em outro país. Ficar fora do seu país, longe da família, dos amigos, muda a pessoa. No Carnaval, meus amigos vieram para cá e viajamos para Salvador e ilha de Boipeba. Eles disseram que eu mudei. Para mim, eu sou a mesma pessoa, mas eles acharam que eu mudei.”

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